segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Formigas arborícolas "planam"

Um amigo me passou, uns dias atrás, uma matéria interessante sobre uma pesquisa realizada no laboratório da Smithsonian em Barro Colorado, no Panamá (Smithsonian Tropical Research Institute).


Lá está descrito que operárias da espécie Cephalotes atratus (Myrmicinae, Formicidae) têm um método só agora descoberto entre as formigas em sua fuga de predadores: se atiram das árvores quando identificam um predador (conforme já descrito em muitas espécies de insetos arborícolas) e são capazes de, com estruturas em forma de folha no tarsômero de suas pernas posteriores, controlar a velocidade e o curso da queda. É claro que não se espera que essas formigas escolham onde vão pousar; acontece que elas tendem deslizar para trás - o que faz com que aterrissem no tronco da árvore de que acabaram de cair.

Cephalotes talvez seja o gênero que apresente mais evidentemente características morfológicas relacionadas ao modo de vida nas cascas de árvores. Sua cabeça possui uma grande placa protetora com prolongamentos que se estendem para os lados, de baixo de que surgem olhos e antenas. O resto do corpo é achatado como a cabeça, sugerindo que essas formigas obtém alguma vantagem em espremer-se em fendas (cogitei também a ideia de que estariam se fingindo de "já esmagadas", mas acho menos provável), como aquela entre o súber e a feloderme de grandes árvores.

Outra descoberta, conjunta à anterior, foi a de que essas formigas têm uma forma de avisar as outras operárias de sua colônia que há um predador na região, criando ondas de formigas se atirando de galhos no dossel. Essa comunicação é baseada em hormônios (os feromônios) produzidos pelas formigas que são reconhecidos pelas antenas de suas pares. Mas isso é comum a todas as outras formigas. O que é interessante é a forma como é desencadeada a defesa nessa espécie.
Dentre os grupos de formigas que estudo, estão as que pertencem à tribo Ponerinae (do grego Ponera [dor] + sufixo -inae [designação de subfamília em zoologuês]). Como o nome sugere, elas têm ferrões e mandíbulas grandes e poderosos, e são parcialmente responsáveis pela má fama das formigas. É comum à subfamília Ponerinae a base química da molécula que compõe o feromônio responsável pela reação de defesa da colônia em cada espécie. O nome geral dessas moléculas é "alquil-pirazinos". Se preferir, o leitor pode pensar no espalhar dessa mensagem química como um sino de alarme que percorre a colônia avisando de um intruso; melhor ainda é pensar em dezenas de pequenos sininhos, cada formiga com o seu próprio, soando em cadeia através do formigueiro, avisando do perigo.
A resposta padrão de uma colônia nessa situação não costuma variar muito. Algumas espécies devem fugir mais, outras brigar mais. Deve haver uma espécie de divisão de tarefas mesmo nesse tipo de situação, imagino. Algumas devem correr para salvar as crias; pupas, larvas e ovos devem ser protegidos a qualquer custo. Algumas procuram ativamente o invasor, movimentando as antenas atrás de seu cheiro. Algumas procuram uma rota de fuga do ninho, dependendo da espécie. Mas pular da árvore é uma resposta extremamente interessante.
Como já mencionei, é comum que invertebrados arborícolas comumente predados se joguem das árvores quando em perigo. A ligação entre esse comportamento e o alarme hormonal das formigas contra ameaças deve ter sido simples, evolutivamente. No entanto, existe um problema: em animais cursoriais, solitários, cair uma grande distância até o solo ou a serrapilheira não faz mal. Também não machuca as formigas, sem dúvida. Mas as isola definitivamente de suas colônias. E uma formiga solitária é uma formiga morta. Provavelmente esse é o motivo pelo qual outras formigas não possuem a característica comportamental de se jogar de troncos de árvores, muito menos em massa. Mas o fato de ser possível voltar ao tronco de que caíram, onde está seu ninho, certamente fez com que a seleção natural incentivasse esse comportamento defensivo e gerou uma grande vantagem na sobrevivência das colônias de Cephalotes atratus.


Fontes:

Fotos: Alex Wild para Smithsonian

Gliding ants steer with hind legs as thy fly backwards, scientists learn. - http://smithsonianscience.org/2010/11/hind-legs-control-ants-backwards-flight-to-safety/


Wingless ants glide to safety steering with their hind legs (w/ video) - http://www.physorg.com/news188115440.html